Prefeituras pagam abrigos para pacientes ficarem perto de hospitais

Cidades pequenas. Hospitais que funcionam apenas como ambulatórios. No máximo, fazem partos. Pacientes acostumados a viajar vários quilômetros em busca de atendimento em municípios maiores. Se o problema é grave, o destino é único: Salvador. O procedimento já é tão rotineiro que as prefeituras das 29 cidades que compõem a Chapada Diamantina mantêm estruturas de abrigo a pacientes na capital. Os interioranos ficam hospedados ou em casas alugadas ou em pensionatos. O custo de cada prefeitura com a manutenção dos pacientes gira entre R$ 5 e R$ 6 mil por mês, sem contar os gastos com o transporte dos passageiros (cerca de R$ 2 mil por mês).

O presidente da União dos Municípios da Chapada Diamantina, prefeito de Andaraí, Wilson Cardoso, afirma que alojar pacientes em Salvador é a única alternativa para fornecer assistência especializada aos munícipes. “Nossa estrutura de saúde na região é fraca. Em Itaberaba, que tem um hospital maior, não há procedimentos como tomografia, cirurgias, etc. A única alternativa é manter os pacientes em Salvador”, justifica-se o gestor, que mantém um contrato com um pensionato em Nazaré há dois anos para os pacientes de sua cidade.

Aos 80 anos, a agricultora Luiza Fraga voltou a enxergar graças à intermediação do serviço feito pela cidade de Mucugê. “Se não fosse o pessoal da prefeitura colocar essa casa aqui, eu nunca ia voltar a ver as cores do mundo”, alegra-se a agricultora, que foi submetida a uma cirurgia para retirada de catarata no Hospital das Clínicas e ficou hospedada na casa de apoio da prefeitura em Nazaré.

A falta de esperança em investimentos pesados na saúde da região é tão grande que os gestores da Chapada especulam construir ou alugar um imóvel maior em Salvador. “Os municípios têm grande dificuldade em prestar assistência aos seus doentes. O sistema de regulação de leitos da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) é falho, o que nos obriga a trazer a pessoa para Salvador para fazer pressão nos hospitais. Precisamos salvar as vidas”, disse Cardoso.

O diretor da rede própria da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), Renan Araújo, admitiu que a área carece de assistência médica adequada. “Sabemos que há um vazio na assistência hospitalar daquela região no que se refere a serviços mais especializados”. Araújo destaca que há um movimento político forte na região para a construção de uma unidade hospitalar de grande porte.“Provavelmente deverá ser no município de Saubara, mas ainda não há nada definido”, esclareceu.

Apesar de usufruir do serviço médico da capital, nenhuma verba é dispensada pelas cidades da Chapada Diamantina para o município de Salvador. Dados da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) indicam que de 25% a 30% dos atendimentos realizados na rede hospitalar da capital são de pacientes no interior, mas o número pode ser bem maior.

O diretor da rede própria da Sesab, Renan Araújo, explica que há subnotificação nesses números. 'Muitas pessoas do interior se passam por residentes na capital. Usam endereços falsos para serem atendidos', explica.

A manutenção de casas em Salvador por parte das prefeituras não é ilegal, de acordo com o diretor da Sesab. 'Contudo, o problema maior é para o morador da capital baiana, pois as cidades do interior deveriam fazer o repasse de verbas do SUS para Salvador de acordo com a quantidade de pacientes repassados, mas isso não é feito', destacou Araújo.

O micro-ônibus da prefeitura de Mucugê traz os pacientes todas as segundas-feiras e retorna nas sextas-feiras. Casos mais graves permanecem na casa. A marcação de consultas, exames e cirurgias, além do transporte dos pacientes, fica a cargo de funcionárias da prefeitura.

O município de Mucugê gasta R$ 2.500 por mês com os quatro profissionais (duas para marcar consultas e acompanhar os pacientes até os hospitais, uma cozinheira e um motorista).

O prefeito diz que, apesar do grande fluxo para Salvador, alguns serviços são feitos na cidade. “Fazemos parto cesário, cirurgia de próstata, hérnia e ortopédicas de pequeno porte. Mas, quando os procedimentos são mais especializados, temos que transferir”. (Matéria do dia 27/10 no Jornal Correio da Bahia)