A sociedade não está preparada para conviver com os idosos na avaliação de 80% das pessoas entre 55 e 73 anos de idade ouvidas em pesquisa divulgada (25 de junho) pelo banco Bradesco. O estudo Longevidade Brasil revela também que 39% dos idosos foram vítimas de discriminação por conta da idade. Entre os que mais relataram o desrespeito, 44% são mulheres, com mais de 70 anos (49%) e da classe C (42%). A pesquisou ouviu cerca de 2 mil pessoas em seis grandes cidades do país. No documento, os idosos alertam para o despreparo dos serviços públicos e privados, principalmente do transporte público, da saúde e dos bancos, nos quais são tratados, muitas vezes, com descaso.
Para o aposentado Dagoberto Moreira, 86 anos, que participou da divulgação da pesquisa, os ônibus são os principais vilões. Ele confirma o fato de os motoristas não pararem ao sinal dos mais velhos e conta casos de direção perigosa. “Só em lugares muito preparados há uma dedicação aos idosos. Em geral, o que a gente vê é a falta de respeito. Os ônibus não respeitam quando os idosos estão descendo ou subindo, ou até atravessando a rua. Outro dia, se eu não seguro uma senhora, ela ia parar longe com a arrancada do motorista”, contou o aposentado.
Para o cientista social José Carlos Libânio, responsável pelo levantamento, chama atenção o fato de 56% dos idosos usarem algum tipo de transporte público mais de uma vez por semana e este serviço ser apontado como o principal ambiente de discriminação. De acordo com o pesquisador, a solução para o problema passa por medidas que incentivem a “civilidade” e o respeito. “É irracional achar que todas as políticas têm que ser universais. O problema é o mesmo do machismo e exige uma mudança de mentalidade. Tem que ser uma evolução dos patamares de civilidade e a história demonstra que isso é possível”, avaliou.
Maioria dos idosos sustenta o lar onde mora, revela pesquisa
Os idosos são responsáveis por grande parcela da contribuição financeira nos lares brasileiros. Pesquisa divulgada (25 de junho) banco Bradesco revela que 80% das pessoas entre 55 e 73 anos afirmam sustentar as casas onde vivem contra 19% que afirmam ser sustentadas por parentes. A pesquisa Longevidade Brasil entrevistou cerca 2 mil pessoas das classes A, B e C em seis cidades de todas as regiões do país, com exceção da Região Norte. Também foram realizados grupos focais e pesquisas etnográficas durante os anos de 2008 e 2009. De acordo com o cientista social José Carlos Libânio, responsável pelo estudo, o fato de os idosos serem os principais provedores das famílias está mais evidente na classe C, onde 82% mantêm os lares. Na classe A o percentual é de 80% e na classe B, de 76%.
Segundo José Libânio, a aposentadoria nas classes mais baixas é um “dinheiro certo” e “constante”, às vezes, maior que o rendimento anterior ao benefício, adquirido por meio do mercado informal. Por outro lado, nas classes mais abastadas, a aposentadoria representa uma queda da renda, por conta das regras para o pagamento do benefício pelo governo, que corta, por exemplo, as gratificações.
“Para as classes mais pobres, o fato de poder contar com uma renda certa e segura, faz toda a diferença. A partir da aposentadoria, a renda se torna constante, o que antes, podia não acontecer”, afirma o pesquisador. “Ao se observar o Nordeste rural, onde estão os bolsões de pobreza mais significativos, o aposentado tem um papel central nas famílias porque é dele que vem o dinheiro fundamental de cada mês”, exemplificou.
A pesquisa do Bradesco traça um perfil dos idosos no país, com dados sobre a percepção deles em relação à qualidade de vida, discriminação, e expectativas para o futuro, como o planejamento financeiro. O estudo lembra que até 2050 cerca de 30% dos brasileiros terão mais de 60 anos. (Fonte: Agência Brasil)