Desde que Salvador foi identificada como a cidade de maior prevalência no Brasil do vírus HTLV, pesquisas na área vêm se estendendo por toda Bahia, chegando finalmente à região Sul. Através de uma parceria entre o Instituto Fiocruz, a Faculdade Baiana de Medicina e a Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), uma pesquisa pretende identificar a soroprevalência do vírus no Sul da Bahia, utilizando, para tanto, o Hospital Manoel Novaes, da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna (SCMI), referência materno infantil para mais de 120 municípios da região.
Com transmissão similar ao vírus da Aids, ou seja, contato sexual e contaminação sanguínea, o HTLV se agrava ainda mais pela facilidade de transmissão materno-fetal, seja ainda na placenta, ou mesmo através da amamentação. Entre os sintomas, o vírus pode provocar doenças neurológicas, dermatites crônicas e até casos de desenvolvimento de leucemia. Apesar da gravidade, nunca foi estabelecido no Brasil um protocolo para inclusão obrigatória da solicitação do exame que detecta o HTLV em gestantes durante o pré-natal. “A pesquisa vem exatamente fundamentar a argumentação da necessidade das mães realizarem o exame, dele ser incluído no hall de exames financiados pelo SUS durante o pré-natal e, assim, tentar instituir novos paradigmas médicos e do aleitamento materno para se evitar que tantas crianças sejam contaminadas pelo TLV” definiu pesquisadora da Fiocruz/Uesc e coordenado da equipe de pesquisa, Sandra Rocha Gadelha.
Com previsão de ser iniciada na próxima segunda-feira (14), a pesquisa pretende investigar aproximadamente 2 mil mulheres, nas quais, após autorização, será coletado sangue para a realização do exame de identificação do HTLV, na tentativa de se conhecer o perfil regional. “Este exame será realizado por um laboratório da própria Fiocruz, em Salvador, que informará o resultado ao Serviço de Vigilância Sanitária do Hospital Manoel Novaes, que, por sua vez, acionará a 7ª Dires para dar continuidade ao acompanhamento das mães. “Aquelas que tiverem o exame positivado serão acompanhadas pela Dires através do serviço de busca ativa, localização e controle, já que não existe vacina, tratamento, nem cura para o vírus”, destacou Sandra Gadelha.
O Hospital - Para a gerente de enfermagem do Hospital Manoel Novaes, Margarida Amorim, a escolha do Hospital relaciona-se ao histórico de ações e serviços prestados na área médica gineco, obstetra e pediátrica, mas também pelas atividades científicas estimuladas pelo comportamento de Hospital Escola. “Além disso, temos outros fatores, como nossa ampla área de abrangência como Hospital referência, temos o título de Hospital Amigo da criança, as inúmeras ações e nosso Banco de Leite na área do incentivo ao Aleitamento Materno, inclusive com o Prêmio Bibi Vogel”, definiu a enfermeira.
Ainda segundo Margarida, a relevância do projeto estabelece-se ainda na abertura de um novo campo de pesquisa com o objetivo de mudança de paradigmas. “A partir das informações da pesquisa teremos base ara uma mudança de diretriz dos próprios profissionais de saúde da gestão como um todo, preconizando o exame”, afirmou. Nesta mesma linha, o exame poderá ser condicionante para a amamentação, bem como para a doação de leite materno.
Contextualização - A identificação de Salvador como área de alta prevalência, com índices que chegam a 1.76% na população geral, e 9% entre mulheres acima de 50 anos, estima-se que 50 mil baianos estejam infectados com o HTLV, quase sempre sem diagnóstico e sem controle. A regionalização das pesquisas pretende a consolidação científica da gravidade da doença e seu nível de abrangência. “Já iniciamos esta pesquisa em Ilhéus verificando também um elevado índice, já que 1.700 mulheres já foram pesquisadas, com soroprevalência de 1.1% dos casos”, relatou Sandra Gadelha.
Assim, ao tempo em que a pesquisa pretende identificar o nível de contaminação do HTLV em gestantes da região Sul da Bahia, reconhecendo o perfil da infecção, deverá informar, conscientizar e alertar profissionais sobre a importância da realização do exame para o vírus. “Ainda pretendemos minimizar os riscos de infecção materno-fetal e fornecer dados para elaboração de projetos e políticas de saúde para a população vulnerável”, finalizou a pesquisadora Sandra Gadelha. (Fonte: Ascom do Hospital)