Lázaro Ramos visita Aldeia Indígena Pataxó de Coroa Vermelha

O mais novo Embaixador do UNICEF no Brasil, Lázaro Ramos, foi recebido por mais de 250 crianças e adolescentes no Centro Cultural da Escola Indígena da Aldeia Pataxó de Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália, no litoral sul da Bahia. O ator baiano, de 30 anos, aproveitou uma folga das gravações da nova temporada do seriado O Pai Ó, em Salvador, para conhecer o Projeto Território de Proteção da Criança e do Adolescente, desenvolvido em parceria pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância e Instituto Tribos Jovens (ITJ), com o apoio da empresa Veracel Celulose. O projeto promove a proteção de adolescentes indígenas contra a violência sexual, trabalho infantil, HIV/aids e drogas, a prevenção da gravidez na adolescência, além do fortalecimento da rede municipal de atenção à infância e à adolescência. O Embaixador acompanhou rituais do povo Pataxó, ouviu depoimentos de estudantes, educadores e lideranças locais, foi homenageado e entrevistado por meninas e meninos da aldeia. Confira alguns trechos desta conversa.

Como foi a sua infância?
Meu pai trabalhava de turno e minha mãe era empregada doméstica. Eles não tinham muito tempo livre comigo. Dindinha, uma tia-avó, foi a mulher que me criou. Minha família é da Ilha do Pati, município de São Francisco do Conde, na Bahia. Dindinha saiu da ilha e foi morar em Salvador. Fui criado com primos-irmãos e com regras rígidas. Não podia ir para a rua, mas a gente tinha um quintal maravilhoso para brincar.

Você participou de algum projeto como o Território de Proteção da Criança e do Adolescente?
Eu morava no Garcia, bairro de classe média baixa de Salvador. Participei do Projeto Recreio, que proporcionava lazer e esporte para a comunidade. Tive contato com o teatro na escola. O teatro ajuda a trabalhar os valores. Eu não pensava em ser um adolescente melhor. É muito bom conhecer um projeto como o de vocês, que promove a arte-educação e a proteção de crianças e adolescentes. É bom estarmos juntos trabalhando para acabar com as doenças sexualmente transmissíveis e a exploração sexual infanto-juvenil.
Os seus pais conversavam sobre sexualidade com você?
Imagina! (risos) Meus pais não sabiam como falar sobre sexualidade, mas o meu primo André... (risos) Ele falava sobre sexo, mas não sobre prevenção. Eu entendo a dificuldade dos meus pais porque eles eram de outra geração e o tema, um tabu. Mas acho importante o diálogo entre pais e filhos. Hoje a gente não pode deixar passar a oportunidade de conversar e buscar informação sobre sexo e prevenção.

Como foi sua primeira apresentação no teatro?
Fiquei muito nervoso. Eu tinha 10 anos e participei do elenco da peça “A bruxinha que era boa”. Esqueci o texto e comecei a improvisar. Quando terminou, todo mundo perguntava: quem é esse menino? (risos) Acho que foi nesse momento que descobri que eu era um ator. (risos)

O que você aprendeu com o teatro?
Faço teatro há 20 anos. O Bando de Teatro Olodum me ensinou a cantar, dançar e atuar no palco, mas, principalmente, a gostar de mim mesmo. Ganhei argumento para falar de mim. Descobri quem sou. É fundamental a aceitação de quem se é. O que você é nem sempre é aceito aonde você vai. O Bando me ensinou a gostar de mim e essa foi a minha maior lição.
Você teve muitas dificuldades no começo da carreira?
Já fui técnico em patologia, minha primeira profissão, mas sempre fiz teatro. Carreira de ator é difícil porque tem muita gente talentosa e espaço para poucas pessoas. O Bando me ensinou a acreditar em mim e cuidar de mim. O teatro também me deu a oportunidade de aprender a ouvir e a olhar nos olhos do outro. E estar em grupo com pessoas que tinham um pensamento comum ajudou muito.

Você já sofreu algum tipo de preconceito na sua carreira?
Preconceito explícito, não. Acho que a carreira que eu construí no teatro e no cinema de alguma forma me protegia. Começar num grupo como o Bando, no qual vivi personagens bem variados, me fez ter um diferencial em início de carreira. Os primeiros personagens que eu fiz no cinema não exigiam atores negros. Depois que eu fiquei mais conhecido, curiosamente, isso mudou um pouco. Alguns convites que recebo têm a rubrica: “personagem negro”. Acredito que o lugar de cada um de nós é onde sonhamos estar e não o que a rubrica indicar.

O que te fez aceitar ser um Embaixador do UNICEF?
Quando você vem de uma comunidade que enfrenta dificuldades, quer ajudar a transformá-la. Fui crescendo bem sucedido no que faço e as pessoas começaram a prestar atenção no que eu digo. Decidi contribuir mais para garantir o direito das pessoas a uma vida melhor. Nosso país pode cuidar melhor das crianças e dos adolescentes. Recebi o convite para ser Embaixador porque o UNICEF percebeu que eu falava coisas que tinham a ver com a missão da organização. Foi uma união de desejos. Estou feliz e sei que é uma grande responsabilidade.

Qual a visão que você tem dos índios?
Vou confessar uma coisa para vocês: tudo o que eu sei sobre povos indígenas, aprendi na escola, nos livros e nas entrevistas que li e vi. Esse é o meu primeiro contato direto com uma aldeia indígena. Estou feliz que a minha primeira visita de campo, como Embaixador do UNICEF no Brasil, tenha acontecido na Bahia. Gosto de minha terra e acredito em comunidades que pensam os seus valores, como a Aldeia Pataxó de Coroa Vermelha. Estou tendo a oportunidade de aprender mais sobre as crianças e adolescentes indígenas. Vocês me disseram que querem ser vistos fora daqui como irmãos na luta contra a discriminação. Levo comigo esta mensagem que aprendi com vocês. (Fonte: Ascom Unicef)