O pequeno Município de Fátima, no Semiárido baiano (19.588 habitantes), tem 2.650 famílias inscritas no Bolsa Família, que receberam em agosto deste ano um total de R$ 251,12 mil em benefícios. Multiplicados por 12 meses, os benefícios correspondem a uma injeção de R$ 3,01 milhões na economia local em um ano, o que equivale a 74% dos R$ 4,07 milhões que o Município receberá este ano do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), principal fonte de renda da maioria dos pequenos Municípios nordestinos.
Como ocorria em 2005 quando o Valor foi a Fátima pela primeira vez, a loja local da rede de Supermercados Bittencourt segue fazendo promoções para atrair as compras dos bolsistas nos dias que eles vão receber seus benefícios. Segundo Joseane do Nascimento, faturista e responsável pela contabilidade da loja, o movimento dos bolsistas começa no dia 20 e vai até o começo do mês seguinte. "Nesses dias fazemos promoções de produtos básicos, principalmente óleo, açúcar, café, massa de milho (para cuscuz), biscoito e macarrão, os itens mais comprados", explica.
Além disso, a loja dá dez pãezinhos de brinde para quem levar todos ou a maior parte dos itens e, se não fizer a entrega na casa do cliente, dá R$ 3 para a passagem de volta. Segundo Joseane, a clientela do Bolsa Família em geral paga à vista e suas compras seguem somando os mesmos R$ 20 mil por mês ao faturamento da loja que somavam em 2005, quando o total de famílias beneficiárias era de 2.033 e o volume pago por mês era de R$ 143,4 mil.
"Embora o valor de cada benefício seja muito pequeno, não podemos confundir esse valor com aquele que é agregado à economia de cada cidade", diz a economista Lena Lavinas. Para ela, o programa, com os R$ 11,96 bilhões em benefícios pagos este ano, funciona como um poderoso instrumento de correção de falhas de mercado.
"Uma sociedade de mercado com 40 milhões de pessoas que não consomem não é um problema grave?", pergunta. Ela ressalta que, no Brasil, diferentemente de países como a Inglaterra, há cobrança de impostos sobre alimentos, e assim parte dos gastos de quem recebe o auxílio retorna para o Estado na forma de tributos.
O movimento dos supermercados representa apenas uma parte do que os beneficiários do Bolsa Família consomem. Josefa Santos Vieira, 30, duas filhas, mora no povoado de Panelas, a sete quilômetros da sede do Município de Fátima, e recebe R$ 102 por mês. É a única renda certa da família, além dos R$ 10 que recebe da mãe. Na safra, o marido colhe feijão nas roças da cidade a R$ 20 por dia. Josefa diz que compra todo mês arroz, óleo, macarrão, café e outros itens no supermercado. No mercado municipal compra carne e é preciso sobrar para cadernos, roupas e outros artigos para as crianças.
Edélson Bittencourt, conhecido como o dono da rede de supermercados que leva seu nome, embora ele tenha negado para a reportagem, diz que a participação dos beneficiários do Bolsa Família nas vendas da loja de Cícero Dantas, a matriz, é de 10% do total. Os maiores compradores, diz, são os aposentados. "Aqui se vive da prefeitura, do comércio, do Bolsa Família e das aposentadorias", resume.
Em Riacho, povoado a 20 quilômetros de Paulo Afonso, Bahia, Caiteane da Silva Gomes, gerente do Supermercado Lima, único do local, também diz que o Bolsa Família responde por 10% das vendas. Segundo Caiteane, a maioria dos beneficiários faz as compras e anota na caderneta para pagar quando recebe o dinheiro. (Fonte: Valor Econômico, em 15.10.09).