Festa do Divino em Poções: um espetáculo de fé, ritmo e cultura

O município de Poções levanta a bandeira do Divino, festejada há mais de um século


“Meu Divino Espírito Santo, Divino Consolador, consolai as nossas almas quando deste mundo for. O Divino pede esmola, mas não é por precisão, é para ver os seus devotos, os seus devotos quem são”. Este é apenas um dos hinos que entoam uma das festas mais populares, tradicionais e religiosas da Bahia. E por falar em tradição, a partir do dia 28 de maio, o município de Poções realiza mais uma edição da sua centenária festa do Divino Espírito Santo, a principal da região e a mais habitual do Estado. Festejada há mais de um século, datando de 1878, a evento antecede até mesmo a data de emancipação da cidade, que ocorreu dois anos depois.

Padroeiro de Poções, o Divino Espírito Santo é representado pela própria pomba branca, onde de acordo com a história da cidade, se deu em razão dos primeiros desbravadores da localidade encontrarem muitos pombos na região. A festa de fé e alegria atrai anualmente mais de 30 mil pessoas dos mais diversos lugares da Bahia.
PROTEÇÃO - Situada no Sudoeste baiano, Poções fica a 444 km da capital, e possui uma população de cerca de 49 mil habitantes. De fácil acesso e bem localizado, o município oferece acomodações com boa infra-estrutura, como pousadas, hotéis, restaurantes, bares e clubes sociais. Para homenagear a proteção de seu divino padroeiro, a cidade muda e ganha maior movimento. Além das procissões e novenas, o festejo também tem seu lado profano. Na praça principal são armadas barracas de comidas e bebidas típicas, onde população e visitantes serão animados por shows de diversas bandas de forró como Edu e Maraial, Edgar Mão Branca, Corpo de Mulher, Forrozão Saborear, entre outras.
Os cavaleiros são a marca do festejo de Poções: mais de 3.000, conduzindo a Bandeira do Divino, símbolo de fé e esperança. Há mais de 130 anos, os responsáveis pela festa saíam a cavalo em peregrinação, levando a bandeira, daí a tradição mantida até os dias atuais. Durante essa andança, os cavaleiros angariavam recursos para a comemoração, onde conforme contam os habitantes, era em moedas de prata. Foram com essas tais moedas que foi construída a Igreja do Divino na cidade e moldada uma pomba de prata que acompanha os cortejos ainda hoje.
HISTÓRICO DE FÉ - A festa do Divino Espírito Santo realiza-se no Domingo de Pentecostes, comemoração móvel católica, que acontece sempre 50 dias depois da Páscoa, em celebração à vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus Cristo. Tal costume veio de Portugal, trazido pelos missionários jesuítas e primeiros colonos. Mas, segundo alguns historiadores, só em Portugal foram queimadas mais de 400 pessoas por sua crença no Espírito Santo. Inúmeros adeptos da nova fé migraram para o Brasil, logo depois de sua colonização. Ainda conforme historiadores, as pessoas recorrem ao Divino em busca dos mesmos milagres esperados dos santos da igreja católica fazendo, inclusive, promessas.
O Divino Espírito Santo não tem atributos específicos, isto é, não tem um dom particular de cura ou proteção, como é o caso de muitos santos. No entanto, por essa razão, ao Divino tudo se pede. O imperador do Divino é aquele através de quem a cidade presta suas homenagens ao Espírito Santo, o Divino. Por esta razão, um dos momentos mais emocionantes do festejo é o da coroação do imperador, é o momento em que simbolicamente o Espírito Santo vem a Terra, sobre o imperador do Divino ou personificado nele, como na época dos apóstolos.
DONATIVOS - Como ninguém é tão pobre que nada tenha para ofertar ao Divino e não tão rico que a ele nada possa pedir, a bandeira vai de casa em casa, cantando e recolhendo donativos pela cidade. Os donos da casa ofertam alimentos e bebidas aos “mensageiros do divino”, sempre adornados por fitas coloridas e lampejos de fé nos olhos. Os devotos beijam a bandeira e choram aos pés do maior emblema do festejo popular e religioso de Poções e de diversos municípios do interior da Bahia.
“Esmolas” são quase sempre concedidas, numa festa onde tudo se pede cantando e em nome do Divino Espírito Santo. “Os devotos do Divino vão abrir sua morada pra bandeira do menino ser bem-vinda, ser louvada. Deus nos salve esse devoto pela esmola em vosso nome, dando água a quem tem sede, dando pão a quem tem fome. A bandeira acredita que a semente seja tanta, que essa mesa seja farta, que essa casa seja santa. Que o perdão seja sagrado, que a fé seja infinita que o homem seja livre, que a justiça sobreviva”. (Ivan Lins, Bandeira do Divino)