Uma fatia anual de R$ 643,7 milhões a mais nos cofres. É isso que desejam os prefeitos brasileiros que tentam abocanhar o montante adicional por meio da aprovação, na Câmara dos Deputados, da emenda ao projeto de partilha dos dividendos dos royalties da camada de pré-sal. Pela emenda, essa divisão seguiria os preceitos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Para conseguir o bônus, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) começou a mobilizar, ontem, seus mais de 5 mil prefeitos. O objetivo é que façam pressão sobre os parlamentares de suas regiões a fim de defender a emenda de autoria dos deputados Humberto Souto (PPS-MG) e Ibsen Pinheiro (PMDB-RS).
Os números fazem parte de um estudo encabeçado pela própria CNM. De acordo com o levantamento, baseado na distribuição dos recursos do petróleo em 2008, estados produtores como o Rio de Janeiro e o Espírito Santo seriam os mais prejudicados, caso a emenda passe no Congresso. O Rio, um dos principais opositores do projeto na Câmara, deixaria de levar um total de R$ 3,7 bilhões. “Nós vamos trabalhar para a aprovação dessa emenda. Já entramos em contato com todos os prefeitos do país para que eles pressionem os deputados de suas cidades”, adiantou o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.
Se por um lado a votação da emenda pode mesmo ser beneficiada pelo ano eleitoral, em que os parlamentares concorrendo a cargos eletivos buscam o apoio dos prefeitos de suas bases para a multiplicação de palanques nos municípios, por outro, enfrenta artilharia pesada. Antes de ser aprovada, a emenda terá a resistência de bancadas dos estados produtores de petróleo, como Rio de Janeiro e Espírito Santo — os mesmos que saem perdendo, conforme mostra o estudo. Isso porque a emenda define que, descontados os royalties dos proprietários de terra e os da União, o valor final seria distribuído de maneira igualitária entre estados e municípios: 50% por meio do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e 50% via Fundo de Participação dos Municípios (FPM).
Os estados litorâneos reclamam o fato de as reservas estarem dentro de seus limites territoriais, fato que justificaria receberem uma maior fatia do bolo na divisão do pré-sal. Já o discurso oposicionista, alinhado com a emenda proposta por Souto e Pinheiro, é de que os recursos oriundos do petróleo pertencem à nação, não a um estado ou município específico, portanto, deveriam beneficiar a todos de maneira igualitária.
Assinaturas - Para Souto, um dos autores da emenda, a oposição dos estados produtores não consegue fazer frente à pressão exercida pelos municípios perto das eleições. Segundo o deputado, o projeto chegou a receber 258 assinaturas de apoio na Casa e vai a plenário em 10 de março, por meio de voto nominal, o que complicaria ainda mais a vida dos parlamentares. No que depender dos municípios, a pressão será grande. Além dessa primeira mobilização, a CNM já agendou, para o próximo mês, duas reuniões em Brasília. No encontro, prefeitos e lideranças municipalistas de todo o país discutirão quais serão as estratégias de mobilização no Congresso Nacional. (Jornal Correio Braziliense)