Cumprindo uma tradição de quase 30 anos, será realizada em Ilhéus na próxima terça-feira, dia 2, a Festa de Iemanjá, considerada a maior manifestação pública do Candomblé. A exemplo das oportunidades anteriores, o evento deverá contar com a participação de centenas de pessoas oriundas de várias etnias, crenças e religiões, que, todos os anos, oferecem presentes à Rainha das Águas, fazendo um pedido ou agradecendo uma graça alcançada. A Festa de Iemanjá é coordenada pela Prefeitura Municipal, através da Secretaria de Turismo, em parceria com terreiros da cidade, e com o apoio da Capitania dos Portos e da Colônia de Pesca Z-19, localizada no Pontal.
A partir das 9 horas, os terreiros Sultão das Matas, de mãe Carmosina, e Ilé Axé Balloni, de Pai Toninho, estarão com uma tenda montada na praça Dom Eduardo, na avenida Soares Lopes. Por sua vez, o terreiro Oxalá, de pai Atanagildo e mãe Dedé, montará tenda na Ponta da Pedra, na avenida Princesa Isabel. Já o terreiro Ilé Guauania de Oiá, de mãe Laura, disponibilizará uma tenda na praia da Maramata, no bairro Nova Brasília. Nesses três pontos, os devotos poderão depositar suas oferendas, sempre ao som dos atabaques, e com muito banho de água de cheiro e entrega de pipoca.
Segundo a secretária de Turismo, Ana Matilde da Hoara, por volta das 16 horas, com animação de um mini-trio, terá início uma grande concentração na praça Dom Eduardo, com a presença de devotos, turistas, baianas, blocos afro e grupos de capoeira. Segundo a programação deste ano, às 17h30min, será formado um grande cortejo para conduzir à praia do Cristo uma imagem da Rainha das Águas e os balaios com as oferendas entregues durante todo o dia. Lá, com a participação de 15 embarcações, terá início o cortejo marítimo que dará uma volta na baía do Pontal, seguindo, logo depois, para o alto-mar, momento em que as oferendas são jogadas. “Os devotos de Iemanjá conhecem sua vaidade e, por isso, não deixam faltar entre os presentes muitas flores, espelhos e perfumes”, comenta pai Toninho.
Início - Em Ilhéus, a Festa de Iemanjá foi iniciada em 1981 por Mãe Carmosina e Pai Pedro Farias. Iemanjá é proveniente de uma nação chamada Egbá, na Nigéria, onde existe um rio com o mesmo nome. Ela seria filha de Olokum (mar) e mãe da maioria dos orixás. Sua cor branca está associada à Oxalá. Juntos, eles teriam criado o mundo. Na África, Iemanjá é associada à fertilidade e à fecundidade. Nas danças míticas, seus iniciados imitam o movimento das ondas, executando curiosos gestos, ora como se estivessem nadando no mar, abrindo os braços, ora levando as mãos à testa e elevando-se ao céu, indicando, dessa forma, as diversas variações das ondas do mar.
Na maioria de suas representações, Iemanjá segura um leque de metal e um espelho. A Rainha das Águas possui diversos nomes referentes à diversidade e às profundidades dos trechos do rio “Yemoja”. Para os adeptos do candomblé, Iemanjá simboliza a criação efetivada. O seu leque, chamado abebê, tem em seu centro um recorte, onde surge o desenho de uma sereia. Em outros modelos do apetrecho, constam a lua e a estrela. Complacente, é responsável pela pescaria farta, além da vida com abundância de alimentos. Ela não lembra a volúpia das sereias das lendas européias ou a lara dos mitos indígenas, mas é representada e cultuada com muito respeito, pois é a “mãe da criação”. A Festa de Iemanjá é promovida pela Prefeitura, através da Maramata, Secretaria do Meio Ambiente e Secretaria de Turismo, com a participação dos terreiros de Mãe Carmosina, Mãe Laura, Pai Toninho e Pai Atanagildo.
Existe um sincretismo religioso entre a santa católica Nossa Senhora dos Navegantes e a orixá da Mitologia Africana Iemanjá. Em alguns momentos, festas realizadas em homenagem às duas se fundem. No Brasil, tanto Nossa Senhora dos Navegantes como Iemanjá tem sua data festiva no dia 2 de fevereiro.
Lenda – A lenda diz que Iemanjá transformou-se num rio para correr mais depressa e fugir do seu marido, Okere, que a maltratava. Ele a perseguiu com seus exércitos até a casa de seu pai. Quando a alcançou pediu que voltasse. Como não foi atendido, transformou-se em montanha, barrando a sua passagem. Então Iemanjá pediu ajuda a Xangô, o orixá do fogo, raios e trovões. Xangô juntou muitas nuvens e com um raio provocou uma grande chuva que encheu o rio. Com outro raio partiu a montanha em duas e Iemanjá pôde correr para o mar. Mais tarde, seguindo o povo iorubá, ela atravessou o oceano protegendo os escravos das tormentas marítimas e, chegando à Bahia, fez do exílio seu reino. É vista como Nossa Senhora dos Navegantes pelos católicos, Janaína pelos índios e sereia pelos europeus. Sua saudação é Odô Yá!
Durante este mês de fevereiro, vários terreiros de Ilhéus darão continuidade às homenagens prestadas à Iemanjá. Um deles é o “Rainha das Águas”, localizado na avenida Esperança, zona norte da cidade. Segundo as ialorixás Liliu e Tuca, nos dias 6 e 7, o terreiro estará em festa com muita alegria, música e comidas típicas. (Fonte: Ascom da Prefeitura de Ilhéus)